
Publicação: 12 de novembro de 2014
Pesquisa só identificaria um quarto de casos da doença em comunidade carente se dependesse do sistema de notificação oficial
Estudos com este tipo de abordagem metodológica devem considerar que a distribuição dos casos é fortemente associada às condições de acesso às unidades de saúde
Uma mesma comunidade em situação de vulnerabilidade social pode ter diferentes áreas de risco para dengue. Essa foi a conclusão de um trabalho feito no bairro Pau da Lima, em Salvador (BA), e que serviu de base para a dissertação de mestrado em Saúde Coletiva de Mariana Kikuti, defendida este ano na Universidade Federal da Bahia (UFBA). A pesquisa foi reconhecida com o terceiro lugar no Prêmio Jovem Pesquisador 2014, concedido durante o 50º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP), que ocorreu entre os dias 26 e 29 de agosto, em Rio Branco (AC).
“A gente imagina que em áreas em situação de vulnerabilidade social as pessoas estão expostas a situações de risco de forma homogênea, mas não é assim”, explica a pesquisadora. De acordo com ela, existe um gradiente de risco dentro da comunidade carente de Pau da Lima, onde pessoas que vivem na região mais baixa e pobre do bairro tem maior probabilidade de buscarem atendimento médico por dengue e outras doenças febris agudas.
O trabalho foi feito conjuntamente com uma equipe que atua na comunidade soteropolitana desde 2009. A proposta era analisar unidades territoriais da localidade estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conhecidas como setores censitários. Foram verificadas se características ambientais, socioeconômicas ou demográficas poderiam justificar a diferença de risco para dengue.
O dado mais interessante do estudo mostra que os setores censitários mais próximos à unidade de saúde estão entre os de maior risco. “Quando a gente ajusta um modelo estatístico que leva em consideração a correlação espacial, a proximidade do setor censitário de residência à unidade de saúde é a variável mais fortemente associada à detecção de casos de dengue”, complementa a pesquisadora. No entanto, ela acrescenta que essa variável pode representar a dificuldade de acesso da população à unidade de saúde. Ou seja: quanto mais longe a pessoa mora da unidade de saúde, mais ela demora a buscar atendimento médico, acarretando em subnotificação de casos. “Como a dengue é uma doença que geralmente tem evolução benigna, uma febre que infrequentemente evolui para casos graves, o paciente melhora antes atendimento médico”, diz.
O diagnóstico, de maneira geral, é feito por suspeita clínica – quando a pessoa apresenta sintomas, principalmente em períodos de epidemia. Mas mesmo a verificação laboratorial pelo sistema de notificação oficial será feita apenas em parte desses pacientes. “A diferença do nosso estudo é que testamos todos os pacientes, independente de ter suspeita clínica ou não. Então tivemos uma possibilidade um pouco melhor de identificar os casos”, destaca.
Kikuti observa que seriam identificados apenas um quarto dos casos em Pau da Lima se o trabalho dependesse apenas dos registros no sistema de notificação oficial. Ela ressalta que estudos com este tipo de abordagem metodológica devem considerar que a distribuição dos casos é fortemente associada às condições de acesso às unidades de saúde.…
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