
Publicação: 11 de setembro de 2014
Pesquisa avaliou o risco da doença transmitida por transfusão em serviços de hemoterapia da região amazônica brasileira
Conclusões da pesquisa mostram que a triagem laboratorial para malária baseada na gota espessa não é capaz de impedir a doação de indivíduos que não apresentam sintomas da doença
Todo cuidado é essencial na região amazônica em relação à malária, onde se concentra cerca de 99,7% dos casos da enfermidade no Brasil. A principal forma de transmissão da doença ocorre por meio do mosquito Anopheles, mas também pode acontecer via transfusão de sangue. Para reduzir esse tipo de ocorrência, especialmente nas áreas endêmicas, uma tese de doutorado apresentada este ano na Universidade de Brasília (UnB) defende que os procedimentos atuais de triagem devem ser revistos.
O autor do trabalho, Dr. Daniel Coradi , que atualmente exerce o cargo de Especialista em Regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anivsa), avaliou o risco da malária transmitida por transfusão (MTT) em serviços de hemoterapia da região amazônica brasileira. Segundo ele, a ideia da pesquisa veio após o falecimento de três bebês em 2006. Todos foram contaminados por malária proveniente da transfusão de sangue de um doador que havia passado por todas as triagens obrigatórias, que são a clínica, a epidemiológica e a laboratorial. “Decidi aprofundar-me no tema para poder recomendar medidas sanitárias e impedir novos casos”, explica.
As conclusões da pesquisa mostram que a triagem laboratorial para malária baseada na gota espessa não é capaz de impedir a doação de indivíduos que não apresentam sintomas da doença, confirmando o resultado de outros trabalhos científicos. “A gota espessa, para esses casos, apresenta sensibilidade muito baixa e está sujeita a erros humanos, gerando resultados falsamente negativos. Isso não é aceitável em outras análises como para o HIV, o HTLV e o HBV . Para mim, é um indicativo de que a enfermidade é negligenciada como doença transmitida pelo sangue”, afirma. Outro problema é o desconhecimento da norma a respeito dos critérios de exclusão clínica e epidemiológica por parte dos hemocentros.
Entre as principais recomendações do pesquisador, está a implantação da triagem laboratorial com testes de alta sensibilidade (capazes de detectar parasitas 400 vezes menores aos identificados pelos de baixa sensibilidade) na região endêmica da Amazônia e maior especificidade nos serviços de hemoterapia localizados em municípios com transmissão de malária. “Após o uso desses novos testes, é preciso deixar de fazer a triagem clínica e epidemiológica para a doença nessas localidades, uma vez que os fatores de risco avaliados não comprovaram a infecção nos doadores. Já nas áreas endêmicas, onde a transmissão foi interrompida há mais de 10 anos, recomenda-se aumentar a sensibilidade nas triagens clínica e epidemiológica e não obrigar a fazer à triagem laboratorial”.
Em relação à morbidade, a MTT não chega a ser uma situação preocupante na região amazônica. Dos 177,76 mil casos registrados em 2013, os de difusão natural da doença superam, em muito, os de transmissões induzidas. Contudo, pela alta letalidade, a malária transmitida por transfusão se torna um evento relevante. Na literatura, encontram-se relatos de letalidade de até 40% pelo Plasmodium falciparum, uma das espécies que causa a doença em humanos.
O especialista atenta que, com a redução da incidência da doença, os casos transmitidos pelos indivíduos em período de incubação tendem a diminuir. Contudo, ainda haverá o risco de transmissão pelos portadores que não apresentam sintomas de infecção, em especial em municípios com histórico de alto risco. “É essencial que se estabeleça na área endêmica uma vigilância pós-transfusional focada na enfermidade. Na minha tese, também apresento como recomendação que protocolos específicos para a MTT sejam estabelecidos nos hospitais e serviços de hemoterapia – importante para que os casos de febre tardia após a transfusão tenham como principal suspeita a malária. Essa medida vai reduzir a letalidade da doença ao permitir o tratamento oportuno”, explica o Dr. Coradi.…
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